"Alguns escrevem pela arte, pela linguagem, pela literatura. Esses, sim, são os bons. Eu só escrevo para fazer afagos. E porque eu tinha de encontrar um jeito de alongar os braços. E estreitar distâncias. E encontrar os pássaros: há muitas distâncias em mim (e uma enorme timidez). Uns escrevem grandes obras. Eu só escrevo bilhetes para escondê-los, com todo cuidado, embaixo das portas." (Rita Apoena)
quarta-feira, 18 de maio de 2011
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Entreolhares
Ela sentia-se realizada. Ele a convidara para dar um passeio na praia. Pegaram o carro, viajaram por meia hora, entre risos, silêncios, e uma ótima música. Agora, andando pela areia ela perguntava-se se estava vivendo um sonho ou se era realidade. Ele brincava, ria, a abraçava. Todo o tempo estava sendo amabilíssimo. Será que agora, finalmente, ele mudara?
Esse sentimento se tornou ainda maior quando, enfim, as brincadeiras cessaram e ele disse:
- Ontem minha mãe veio me dar conselhos, disse que está ta hora de tomar um rumo e sossegar.
O coração dela disparou.
- Viu só? Talvez seja um sinal. Mãe sempre tem razão – Seu coração não mais cabia em seu peito, onde será que ele estava tentando chegar? Cogitava que chegaria a beira da loucura se não soubesse de uma vez o final dessa conversa. Será que finalmente ele iria pedi-la em namoro?
- Ela disse que eu não valorizo ninguém. Que iludo todas as meninas. Faço-as gostarem de mim, e depois vou embora.
- Continuo achando que mãe tem sempre razão. Você não pode dizer que é mentira. Quem pretende ter você ao lado, tem que ser muito forte, tem que entender que você é assim. – Talvez ele não a entendesse muito bem, mas ela sempre esteve lá, pronta para perdoar tudo, pronta para ampará-lo, e nunca cobrou, ou pediu nada a ele.
- Sabe, tem uma menina que estudou comigo, que eu poderia namorar.
Suas esperanças caíram por terra, onde ele estava querendo chegar afinal? Primeiro como o passeio, depois com as brincadeiras, e agora com isto? Talvez sua intenção fosse confundi-la, magoá-la.
Ele continuou:
- Para mim, ela era a garota mais linda do colégio. Mas eu não sei se eu quero me privar , ficar preso à alguém. E as minhas fãs como iriam ficar?
Tal comentário a tirou do sério. Havia uma erupção de sentimentos dentro dela, que lutavam para transparecer. Mas ela foi forte, mais forte do que nunca havia sido antes. Resumiu a sua ira à uma sutil ironia e a risos falseados:
- Desculpe, já ia esquecendo-me de como você é irresistível.
Os dois riram e se entreolharam.
- Quando digo fãs, falo brincando. Mas quando me refiro a possibilidade de um namoro, talvez aconteça mais cedo do que possamos imaginar.
O coração da garota, antes apaixonada e esperançosa, estava aos cacos pela areia, e ela nem mesmo tinha força para juntá-los. Mesmo assim, ficou ali, ereta e sorridente, como se houvesse completa normalidade na situação.
- Nossa! Se tem uma coisa que eu sou capaz de pagar para ver, é você namorando. Parece-me tão irreal essa cena. Alguma coisa, em meio a tantas, parece não combinar. – Ela se referia a outra, a nova protagonista da história dele, aquele lugar, por deveria ser dela.
- Conversei com ela ontem, ela me disse que eu a deixei de lado, talvez ela tenha razão. Nós estávamos saindo todos os finais de semana, mas eu fiz como a todas as outras. Insisti, perguntei se teria chances de um relacionamento sério, ela me disse que não sabia.
- Você tem chances. – E isso soou para ela, mais como um lamento, do que como uma constatação.
Ela parou por um instante, e começou a sentir-se mal por ser talvez tão egoísta, ou por não tem conseguido desviar os rumos dessa conversa, que no mais tardar, tornar-se-ia inevitável.
- Eu sei que tenho chances.
- Como sempre o ego fala mais alto.
- E além de tudo, ela é linda, nós nos damos bem. E eu não quero magoá-la, ela é uma pessoa incrível. Não consigo me ver com a mesma pessoa pra sempre, mas com ela me vejo por um tempo sabe? Mas eu realmente, preciso tomar uma decisão.
- Você está apaixonado. – Ela estava totalmente desconsertada. Não conseguia mais pensar e imaginar ela própria em meio a essa história. Colocou-se no dolorido papel de amiga, e resolveu ficar ali, aguentar firme e brincar de moça desentendida.
Ele ignorou o comentário dela. Nessa altura, ele também parecia um pouc
o incomodado e com um certo medo das consequências de suas palavras.
- Mas fico pensando em uma menina que eu quero muito bem, e que vai ficar triste com isso tudo.
- Isso depende muito. Depende de quem você se refere especificamente. – Ela sabia muito bem que a tal “menina” era ela, e de certa forma não gostou de ser tratada como terceira pessoa, terceira pessoa do triângulo que ela recentemente conhecera.
- Por quê?
- Talvez ‘triste’ não é a palavra certa. Depende de cada um.
- Ah, é uma menina que eu fico. Não preciso dizer quem é.
- E por que não?
- Porque não.
Agora ela estava profundamente irritada, não sabia mais o que pensar, como agir. Estava sentindo-se uma pessoa qualquer, sem valor, sem sentimentos, e sobretudo sem nenhuma importância.
- Me leva para casa?
Durante toda a viajem houve silêncio absoluto entre os dois, o único som, era o da estrada, do rádio ligado, e do vento no rosto dela, secando as lágrimas que caiam sem que ele as percebesse.
Quando pararam em frente ao portão dela, foi ele quem o quebrou:
- Acho que vou terminar mesmo com a menina que eu costumo ficar.
- Ah é?! Por quê? – Num tom despreocupado, e tranquilo.
- Acho que vou me entregar de corpo inteiro na história que eu te contei.
- Você acha demais. Boa sorte. – Bateu a porta do carro, e entrou em casa.
Não se falaram durante semanas. Não se viram durante semanas. Ela chorou durante semanas. E então chegou um e-mail para ela que dizia:
“Me desculpa. Fui um idiota. Você sempre esteve lá, e talvez por isso, nunca tive tempo de sentir sua falta. Mas você é realmente importante para mim. Me perdoa, eu te amo.”
Ela apagou o e-mail sem hesitar. Finalmente enxugou suas lágrimas e decidiu que nunca mais ninguém, ninguém iria lhe magoar.
terça-feira, 10 de maio de 2011
quarta-feira, 4 de maio de 2011
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