sábado, 30 de abril de 2011

Saudade não tem tradução

E de repente, eu fui obrigada a crescer. Foram quase dezessete anos na mesma cidade, mais de dez morando com a minha avó, por vezes vendo as mesmas pessoas todos os dias, e dentro do mesmo circulo social, afinal numa cidade pequena todos se conhecem, e conhecemos a todos. Até os caminhos para mim, pareciam comuns, tediosos e por vezes, reclamei de morar ali, não tinha aonde ir, não tinha o que fazer, aos domingos restava apenas a televisão ligada, e as pessoas, ah, as pessoas sempre sabiam de tudo.

Reclamar de tudo isso sempre me fez querer mudar, mas não esperava uma mudança tão radical. Mudar para uma cidade praticamente vizinha não me parecia tão mal, e realmente não é. Mas é complicado. Sinto falta de ir ao mercadinho a pé, passar a tarde no colégio jogando conversa fora, sair e encontrar toda a galera em um lugar comum. Sinto falta mais ainda da vó. Mesmo reclamona e durona, sempre com a comidinha gostosinha e quentinha pronta na volta do colégio, ou desesperada por causa da bagunça no meu escritório (que ela não gostava de arrumar, por medo de jogar alguma coisa fora). E a minha mãe? Sempre atrasada passando lá em casa pra me dar carona para levar meu irmão pra escola.

Minhas preocupações realmente me pareciam sérias, como a prova do dia seguinte. E até acredito que para o período em que estava, realmente era. Mas se não fosse tão bem na tal prova, tinha a recuperação, um trabalhinho no fim do bimestre e ponto, e mesmo assim eu me desesperava se fosse mal. Sinto falta do movimento estudantil, como era bom o friozinho na barriga das incertezas e de muitas vezes das lutas. Lembro do dia que eu deixei-o, e até me emociono quando vem a imagem de pessoas normais, que as vezes eu nem lembrava, ou sei lá, vindo me abraçar e agradecer pelo trabalho que eu tinha feito, pessoas importantes, como o vice-prefeito, e o secretário de administração, me citando como exemplo em discursos para os jovens. E me orgulho de quando os próprios estudantes pediram minha candidatura no final do ano, oferecendo apoio, foi muito bonito.

Mas como eu disse, eu tive que crescer, e principalmente mudar. Da cidade pequena, para a metrópole, que tanto estava acostumada a visitar, mas morar é realmente diferente. Parei de dar aula particular, para perguntar qual curso o cara vai prestar, antes de ao menos tirar uma dúvida. Não que eu seja hipócrita, mas esse ano, é o que “melhor se adaptar ao meio, sobreviverá”, estou tendo que me superar antes de qualquer coisa. Relações afetivas também ganharam um ponto final, não que fosse um relacionamento sério, mas era bom.

Passei da fase teen, e virei adulta. Quer dizer, eu acho que é isso que é ser adulto. Ter que contar somente com você mesmo para alcançar o que você quer, e não poder reclamar disso. Afinal, é a lei da vida. Acho que desde a sétima série quis estar no terceiro ano do ensino médio, hoje queria voltar pra sétima série, e começo a me aproximar da minha mãe quando ela diz: “que saudades do cursinho”. São fases que tem que ser superadas, muito bem administradas, e vencidas, não pelos medos, mas pela confiança. E é esse o trabalho principal que tenho feito agora. Creio eu, que o maior de todos os obstáculos não é a carga horária abarrotada, ou a dedicação total as apostilas, mas sim acreditar que eu sou capaz, que eu vou conseguir, apesar de muitas coisas te falarem que não, que o objetivo é muito difícil. Mas se for fácil, o sabor no final não vai ser tão bom, e nunca ninguém me disse que seria, eu só não conseguia associar a proporção a realidade. O autocontrole e o autoconhecimento, estão sendo meus exercícios diários, que superam o estudo, da química, da física ou da matemática. São muito mais complexos e difíceis de aprender.


"A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade."

(Mário Quintana)

domingo, 10 de abril de 2011

Com absoluta sinceridade, tento ser otimista a respeito de todo esse assunto, embora a maioria das pessoas sinta-se impedida de acreditar em mim, sejam quais forem meus protestos. Por favor, confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo.

- Reação ao fato supracitado -

Isso preocupa você? Insisto - não tenha medo. Sou tudo, menos injusta.

(A Menina que Roubava Livros - Markus zusak)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Worry


Chega um momento em nossas vidas em que temos que escolher qual caminho tomar, que curso prestar, que instituição cursar. Depois de tantos anos cômodos escolares, nos vemos fronte a uma bifurcação de estradas, uma encruzilhada.
Em uma orientação profissional, um professor me disse: “não vou te dizer o que você vai fazer, quem vai me contar isso é você!”, saí de lá e fiquei pensando nisto. Anos e anos a fio, me disseram o que fazer: a matéria da prova bimestral, os lugares a se freqüentar, as comidas que eu não iria gostar, o que vestir. E há a maior normalidade nisto. Nossos pais nos protegem durante 17 anos e nós mal percebemos, praticamente fica na nossa pele essa dependência.
Aí chega o dia. O dia em que as portas da tão esperada liberdade se abrem e você, defronte à novidade sente medo, medo. Sentimento que acredito eu, todos sentiram nessa fase. A responsabilidade despejada de uma só vez em nós, nos faz ter medo, medo do fracasso.
É como se nos dissessem: Agora vai, cria suas asas e voa. Mas como sair do ninho? Nossos pais, muitos deles bem-sucedidos em suas carreiras profissionais, no fazem aspirar ao mesmo. E se não conseguirmos? Se agora, não tivermos a maturidade suficiente (que sempre achamos que tínhamos em tantos momentos) para escolher como passaremos todos os dias de nossa vida.
Minhas opções sempre foram muito parecidas umas com as outras. Aos cinco anos, queria ser veterinária, hoje, tenho medo de animais em geral. Aos oito, passou-me pela cabeça a idéia de biologia marinha, hoje, não me vejo no ramo. Aos onze, diante da facilidade com a matemática, julgava que engenharia se resumisse a equações do primeiro grau. Chegando ao quatorze, jornalismo, a facilidade com a fala me fez cogitar essa possibilidade. Hoje Direito a que mais se destaca, a argumentação e a escrita são algumas de minhas paixões, mas nesse caminho temos Gerenciamento de Qualidade, História e a Marinha Mercante. Sim, profissões de áreas extremamente próximas.
E se destas nenhuma for a mais plausível? Vou descobrir apenas me arriscando, me libertando dos medos, das amarras do comodismo. Quem sabe um dia, eu diga: Sou feliz, pelas minhas escolhas. E neste dia vou saber que tudo valeu a pena.


“Não se preocupe com o futuro, ou se preocupe, se quiser, sabendo que a preocupação é tão eficaz quanto tentar resolver uma equação de álgebra mascando chiclete.” (Sunscreen - Baz Luhrmann)