E de repente, eu fui obrigada a crescer. Foram quase dezessete anos na mesma cidade, mais de dez morando com a minha avó, por vezes vendo as mesmas pessoas todos os dias, e dentro do mesmo circulo social, afinal numa cidade pequena todos se conhecem, e conhecemos a todos. Até os caminhos para mim, pareciam comuns, tediosos e por vezes, reclamei de morar ali, não tinha aonde ir, não tinha o que fazer, aos domingos restava apenas a televisão ligada, e as pessoas, ah, as pessoas sempre sabiam de tudo.
Reclamar de tudo isso sempre me fez querer mudar, mas não esperava uma mudança tão radical. Mudar para uma cidade praticamente vizinha não me parecia tão mal, e realmente não é. Mas é complicado. Sinto falta de ir ao mercadinho a pé, passar a tarde no colégio jogando conversa fora, sair e encontrar toda a galera em um lugar comum. Sinto falta mais ainda da vó. Mesmo reclamona e durona, sempre com a comidinha gostosinha e quentinha pronta na volta do colégio, ou desesperada por causa da bagunça no meu escritório (que ela não gostava de arrumar, por medo de jogar alguma coisa fora). E a minha mãe? Sempre atrasada passando lá em casa pra me dar carona para levar meu irmão pra escola.
Minhas preocupações realmente me pareciam sérias, como a prova do dia seguinte. E até acredito que para o período em que estava, realmente era. Mas se não fosse tão bem na tal prova, tinha a recuperação, um trabalhinho no fim do bimestre e ponto, e mesmo assim eu me desesperava se fosse mal. Sinto falta do movimento estudantil, como era bom o friozinho na barriga das incertezas e de muitas vezes das lutas. Lembro do dia que eu deixei-o, e até me emociono quando vem a imagem de pessoas normais, que as vezes eu nem lembrava, ou sei lá, vindo me abraçar e agradecer pelo trabalho que eu tinha feito, pessoas importantes, como o vice-prefeito, e o secretário de administração, me citando como exemplo em discursos para os jovens. E me orgulho de quando os próprios estudantes pediram minha candidatura no final do ano, oferecendo apoio, foi muito bonito.
Mas como eu disse, eu tive que crescer, e principalmente mudar. Da cidade pequena, para a metrópole, que tanto estava acostumada a visitar, mas morar é realmente diferente. Parei de dar aula particular, para perguntar qual curso o cara vai prestar, antes de ao menos tirar uma dúvida. Não que eu seja hipócrita, mas esse ano, é o que “melhor se adaptar ao meio, sobreviverá”, estou tendo que me superar antes de qualquer coisa. Relações afetivas também ganharam um ponto final, não que fosse um relacionamento sério, mas era bom.
Passei da fase teen, e virei adulta. Quer dizer, eu acho que é isso que é ser adulto. Ter que contar somente com você mesmo para alcançar o que você quer, e não poder reclamar disso. Afinal, é a lei da vida. Acho que desde a sétima série quis estar no terceiro ano do ensino médio, hoje queria voltar pra sétima série, e começo a me aproximar da minha mãe quando ela diz: “que saudades do cursinho”. São fases que tem que ser superadas, muito bem administradas, e vencidas, não pelos medos, mas pela confiança. E é esse o trabalho principal que tenho feito agora. Creio eu, que o maior de todos os obstáculos não é a carga horária abarrotada, ou a dedicação total as apostilas, mas sim acreditar que eu sou capaz, que eu vou conseguir, apesar de muitas coisas te falarem que não, que o objetivo é muito difícil. Mas se for fácil, o sabor no final não vai ser tão bom, e nunca ninguém me disse que seria, eu só não conseguia associar a proporção a realidade. O autocontrole e o autoconhecimento, estão sendo meus exercícios diários, que superam o estudo, da química, da física ou da matemática. São muito mais complexos e difíceis de aprender.
"A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade."
(Mário Quintana)
Falo, orgulhosamente, que me encontro no melhor momento da minha vida. Mas por que? Bom, desde que passei no vestibular - pelo que entendi tua atual situação - comecei a me preocupar mais com minha felicidade e satisfação. Não tenho dúvidas em afirmar que o pior momento da minha vida foi durante os estudos para ingressar na faculdade. Muito estudo, poucos amigos e incertezas aos montes... É uma fase muito ingrata, sem dúvida. Mas vale a pena o esforço. Ser aprovado num bom curso em instituição pública, seja federal ou estadual, é investimento para a vida toda... Escreves muito bem; se fosse você não me preocuparia tanto com redação, estás muito bem!! Estou te seguindo! se te interessares dá uma olhada! http://heitorpergher.blogspot.com
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