sábado, 11 de dezembro de 2010



NOTA:

“Não saio de férias. Entro em ócio criativo”. Nos próximas semanas terei que achar bons motivos para voltar a escrever. O ano acabou, a luz apagou, e com tudo isso vem ou muitas coisas a serem feitas ou uma preguiça extrema. Mas não se desesperem, muitas coisas acontecem no verão e tenho certeza que motivos não faltarão.


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Strip-Tease


Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso.

Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.

Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.

Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".

Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."

Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".

Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua.

"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui". E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.


(Martha Medeiros)



terça-feira, 30 de novembro de 2010

Faz de conta

Não respondo teus e-mails, e quando respondo sou ríspido, distante, mantenho-me alheio: FAZ DE CONTA QUE EU TE ODEIO.
Te encho de palavras carinhosas, não economizo elogios, me surpreendo de tanto afeto que consigo inventar, sou uma atriz, sou do ramo: FAZ DE CONTA QUE EU TE AMO.
Estou sempre olhando pro relógio, sempre enaltecendo os planos que eu tinha e que os outros boicotaram, sempre reclamando que os outros fazem tudo errado: FAZ DE CONTA QUE EU DOU CONTA DO RECADO.
Debocho de festas e de roupas glamurosas, não entendo como é que alguém consegue dormir tarde todas as noites, convidados permanentes para baladas na área vip do inferno: FAZ DE CONTA QUE EU NÃO QUERO.
Choro ao assistir o telejornal, lamento a dor dos outros e passo noites em claro tentando entender corrupções, descasos, tudo o que demonstra o quanto foi desperdiçado meu voto: FAZ DE CONTA QUE EU ME IMPORTO.
Digo que perdôo, ofereço cafezinho, lembro dos bons momentos, digo que os ruins ficaram no passado, que já não lembro de nada, pessoas maduras sabem que toda mágoa é peso morto: FAZ DE CONTA QUE EU NÃO SOFRO.
Cito Aristóteles e Platão, aplaudo ferros retorcidos em galerias de arte, leio poesia concreta, compro telas abstratas, fico fascinada com um arranjo techno para uma música clássica e assisto sem legenda o mais recente filme romeno: FAZ DE CONTA QUE EU ENTENDO.
Tenho todos os ingredientes para um sanduíche inesquecível, a porta da geladeira está lotada de imãs de tele-entrega, mantenho um bar razoavelmente abastecido, um pouco de sal e pimenta na despensa e o fogão tem oito anos mas parece zerinho: FAZ DE CONTA QUE EU COZINHO.
Bem-vindo à Disney, o mundo da fantasia, qual é o seu papel? Você pode ser um fantasma que atravessa paredes, ser anão ou ser gigante, um menino prodígio que decorou bem o texto, a criança ingênua que confiou na bruxa, uma sex symbol a espera do seu cowboy: FAZ DE CONTA QUE NÃO DÓI.

(Martha Medeiros)

domingo, 21 de novembro de 2010

Affection


Se você me perguntar cada traço que tem nele, todas as linhas e formas, depois de tanto tempo saberei te responder. Se você me pedir para lembrar de alguma coisa dele ou com ele, imediatamente a lembrança de seu cheiro me entorpece e já não posso mais. Tantos “para sempre” pronunciados que foram eternos enquanto valiam a pena, ou não. Talvez estes “para sempre” ainda estejam mais vivos do que nunca. Talvez eu ainda o ame, mas hoje já não o quero mais do mesmo jeito. Talvez para sempre me lembrarei de como tudo aconteceu, e com o tempo, limparei as partes feias, e as moldarei com os mais belos formatos, para que o carinho pelas lembranças seja ainda maior. Dizem que os brinquedos de hoje em dia quebram fácil, e nosso tempo juntos foi assim mesmo.
Mais do que nunca essas lembranças estão sendo reavivadas dentro de mim, um sentimento louco, uma sensação indescritível da qual vem e vai sem nenhuma explicação, porém na hora em que acontece parece tão possível de esquecer. “É como queimar pavio de vela. Minha vela ainda ta acessa. Quero que ela queime toda ou então que eu possa trocá-la. Não agüento mais essa chama se alternando, ora forte, ora quase se apagando”. Andar nas mesmas ruas e nos esbarrarmos por vezes não ajudam em nada.
Muita coisa já aconteceu depois da última vez, muito tempo se passou, sei coisas das quais não sabia, e tenho certeza que ele também. Mas me sinto a mesma menina quando olho nos olhos dele. Preciso fazer uma correção antes de continuar, não é amor, talvez eu ainda sinta o mesmo carinho que sentia.
Embora ainda esteja no auge dos meus dezesseis anos, me sinto mais confortável que muita gente com o dobro da minha idade para falar de sentimentos. Não que eu expresse-os, mas posso garantir que tenho muitos dentro de mim, e conheço a efervescência de cada um como ninguém. Como já diria Fernando Pessoa, “tenho em mim, todos os sentimentos do mundo”.
Sou muito segura para todas as decisões que eu tomo em minha vida, mas por “minha vela ainda estar acessa” quando vou trocá-la me sinto andando em areia movediça, afundando cada vez mais, procurando cada vez mais sentir tudo que já senti de uma vez só. Deve ser por isso que eu fujo tanto dos novos encontros que a vida proporciona, que me esconda atrás de uma armadura de indiferença. Por medo? Talvez. Por medo de que a velha história se repita? Com certeza. Mas um dia, tenho certeza que conseguirei fazer disso, só mais uma coisa que se lembra quando conversa entre amigos, e me sinta livre para me entregar de novo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Juliet

Julieta é uma idiota, pra começar, ela se apaixona pelo cara errado, que ela não pode ter, então ela culpa o destino pela sua própria decisão errada. O amor assim como a vida é uma questão de tomar decisões. E o destino não tem nada haver com isso. Todos acham que é tão romântico, Romeu e Julieta, amor verdadeiro, que triste. Se julieta foi burra o suficiente pra se apaixonar pelo inimigo, beber uma garrafa de veneno e ir dormir num mausoléu, ela mereceu o que teve! Talvez Romeu e Julieta estavam marcados pra ficarem juntos, mais só por um tempo, então o tempo deles passou. Se eles pudessem saber antes, talvez tudo ficaria bem. Se quando você tiver o destino em suas mãos não deixar nenhum cara te arrastar pra baixo, você será sortuda por ter esse tipo de paixão por alguém. O amor é uma questão de escolhas, é questão de tirar o próprio veneno e fazer o próprio final feliz. Mesmo assim às vezes o destino sempre vence.
(autor desconhecido)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Fly


Sentada na beira da piscina sob o sol lindo que faz hoje, praticamente imóvel, o vôo rasante do bem-te-vi na água. Pode parecer besteira, mas me peguei imaginando a vida desse pássaro, como deve ser maravilhosa. Acordar com o sol nascendo em seu ninho e poder voaaaaar… você conhece alguma coisa mais livre que um passarinho? Cantar a sombra das árvores e se alimentar apenas de frutos,retornar ao ninho para seus filhotes, retornar ao lar feito na árvore mais alta, dos mais altos picos. Quisera eu ser um passarinho.

Alguns deles ainda têm um romance com as flores, às beijando sempre. Outros apenas se abraçam com o vento. Entretanto, têm uns que tem presença fundamental, afinal, sem eles não temos o verão.

Tenho que corrigir um equívoco antes de continuar, TODOS são fundamentais, se fosse diferente a roda da vida não iria girar.

Tanta ladainha para chegar nesse ponto: cada um tem sua função aqui nesse plano. E em dias gostosos como esses que eu percebo como a vida não tem pressa, seja pelo passarinho que pousou na minha frente, seja pelo céu azul ou pelo simples acorde no violão da música tocando. E me sinto agradecida por estar viva e não estar só passando por essa vida.

Todos os momentos. Ter o sol tocando minha pele não tem preço, poder andar descalça, sentir o gelo do sorvete, poder ver o sorriso do meu irmão, ouvir os gritos da minha mãe e os resmungos da minha avó. Não tem o que pague pela dádiva de estar viva.

Como já diria aquela música: Hoje eu não vivo só... em paz. Hoje eu vivo em paz sozinho. Muitos passarão, outros tantos passarinho. Muitos passarão..."


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

War

Em que momento nós devemos tomar a iniciativa de levantar a bandeira branca? Em que momento devemos tirar a amadura e encarar o que é melhor para a gente? Tem uma frase que diz muito sobre as minhas atitudes diante dessas situações: “Jamais me retiro do campo de batalha. No momento em que travo uma guerra já tenho uma certeza, só saio de cena quando ganhar”. Mas afinal, hoje, para mim o que é ganhar?

Ganhar para mim hoje é manter meu estado de espírito. Ganhar para mim hoje, é manter minha cabeça erguida apesar dos pesares. Sair de cabeça erguida das batalhas cotidianas é imprescindível. Por que com essa batalha, essa batalha ideológica pelo poder seria diferente?

Em uma reunião hoje senti essa paz, essa trégua. Praticamente em uma mesa redonda, estavam a Tríplice Aliança sentada com a Tríplice Entente fazendo o seu tão sonhado e idealizado acordo de paz. Será o final da guerra?

Deixo a diretoria para entrar na História, ou pelo menos para fazer valer a História que há de ser construída do jeito que não conseguimos que ela fosse até agora. Não adianta lutar contra os fatos, eu sei que eles vão fazer um bom trabalho e torço realmente por eles, se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, afinal, somos todos iguais, braços dados ou não.

Meus dias de estudante secundarista estão acabando. Ano que vem serei única e exclusivamente uma vestibulanda. Torço apenas para não me tornar uma adulta acomodada e hipócrita, para não idealizar demais meus momentos no movimento estudantil e lembrar de cada lição, tanto as boas, quanto as ruins e saber como usá-las daqui para frente na minha vida, tanto pessoal, quanto futuramente profissional.

Fico feliz pelas pessoas que me entenderam e adotaram minha causa. Fico feliz para as pessoas que agora quem sabe irão tomar um rumo na vida por causa das palavras que um dia lhes disse. Fico feliz por ser responsável pela razão no momento em que a única coisa que parecia ter voz, era o ego, a vaidade e a emoção. Fico feliz por ver a paz de espírito nos olhos de alguém que eu quero bem e que antes só via preocupação e angústia.

Obrigada meu Deus, obrigada meus anjos por estarem me guiando sempre para o melhor.

domingo, 24 de outubro de 2010

Missing


Em certos momentos de nossas vidas, aprendemos que não devemos esperar nada de ninguém. Principalmente se esse alguém for que você ama.

Certa vez me disseram que quem ama, se sente feliz apenas com o sorriso da pessoa amada, e talvez isso realmente seja verdade, mas tem uma hora que você cansa, se fecha, coloca os pés no chão e segue seu caminho sozinho.

Como em todo caminho, temos nossos obstáculos, as pedras, os buracos, não importa de qual tamanho eles sejam. Às vezes, vem em forma de amizades que não são verdadeiras, que nunca foram, só estiveram ali pelo tempo necessário para que aprendamos como lidar com as pessoas, e talvez para nos mostrar de que de uma forma, ou de outra quem segue do nosso lado, sempre tem que desembarcar em uma estação, ou mudar de trem. E nós temos que ser fortes a cada dia, e esperar que cada segundo seja lembrado com carinho.

Às vezes, pessoas fazem com que nos sintamos bem. Elas parecem ter a formula mágica de tocar nosso coração com cada palavra. Nos dizem o que queremos ouvir, e cabe a nós decidirmos se acreditamos de fato. Temos que encarar os riscos de cada escolha, temos que encarar a realidade se ela não for tão bonita, ou arcar com as consequências se machucarmos um coração que não merece por pura descrença.

Mas além de tudo isso, temos pessoas ao nosso lado que são maravilhosas e que Deus coloca em nosso caminho para nos reconfortar, tudo na hora certa. São como anjos que nos protegem e guardam, e não querem nosso mal. A esses sim, eu devo cada lenço cedido na hora de um choro, ou cada palavra amiga num momento que nada parece dar certo.

A vida já aprontou tantas comigo em tão pouco tempo, que não sei como será daqui para frente. A ferida algum dia vai cicatrizar? E se cicatrizar, ninguém vai abri-la novamente? Talvez eu nunca ache a resposta, talvez eu nunca saiba o significado de um amor de verdade. A única coisa que eu sei, é que eu estou exausta de ser a menina inteligente, que todo mundo pode contar, e que sempre está ali, e passar a ser aquela menina que é realizada, que é amada e não a que ama pelas duas partes. Será que o problema é comigo?

Não, eu não me culpo por nada. Hoje cresci, sou mais pé no chão, e vejo as coisas como elas realmente são, tudo em preto e branco. Não tento pintá-las de cor-de-rosa. Fazer planos, só se for sozinha. A máscara de durona, as vezes faz-me sentir mais segura, mas eu também sinto. E acredito muito no poder de cada palavra que é a mim pronunciada. Não sei mais se posso dizer, “fica, eu preciso de você aqui”, a única coisa que provavelmente saia da minha boca será: “tudo bem, a decisão é sua, ficarei bem. Supero rápido”. Quisera eu superar tão rápido assim.