terça-feira, 30 de novembro de 2010

Faz de conta

Não respondo teus e-mails, e quando respondo sou ríspido, distante, mantenho-me alheio: FAZ DE CONTA QUE EU TE ODEIO.
Te encho de palavras carinhosas, não economizo elogios, me surpreendo de tanto afeto que consigo inventar, sou uma atriz, sou do ramo: FAZ DE CONTA QUE EU TE AMO.
Estou sempre olhando pro relógio, sempre enaltecendo os planos que eu tinha e que os outros boicotaram, sempre reclamando que os outros fazem tudo errado: FAZ DE CONTA QUE EU DOU CONTA DO RECADO.
Debocho de festas e de roupas glamurosas, não entendo como é que alguém consegue dormir tarde todas as noites, convidados permanentes para baladas na área vip do inferno: FAZ DE CONTA QUE EU NÃO QUERO.
Choro ao assistir o telejornal, lamento a dor dos outros e passo noites em claro tentando entender corrupções, descasos, tudo o que demonstra o quanto foi desperdiçado meu voto: FAZ DE CONTA QUE EU ME IMPORTO.
Digo que perdôo, ofereço cafezinho, lembro dos bons momentos, digo que os ruins ficaram no passado, que já não lembro de nada, pessoas maduras sabem que toda mágoa é peso morto: FAZ DE CONTA QUE EU NÃO SOFRO.
Cito Aristóteles e Platão, aplaudo ferros retorcidos em galerias de arte, leio poesia concreta, compro telas abstratas, fico fascinada com um arranjo techno para uma música clássica e assisto sem legenda o mais recente filme romeno: FAZ DE CONTA QUE EU ENTENDO.
Tenho todos os ingredientes para um sanduíche inesquecível, a porta da geladeira está lotada de imãs de tele-entrega, mantenho um bar razoavelmente abastecido, um pouco de sal e pimenta na despensa e o fogão tem oito anos mas parece zerinho: FAZ DE CONTA QUE EU COZINHO.
Bem-vindo à Disney, o mundo da fantasia, qual é o seu papel? Você pode ser um fantasma que atravessa paredes, ser anão ou ser gigante, um menino prodígio que decorou bem o texto, a criança ingênua que confiou na bruxa, uma sex symbol a espera do seu cowboy: FAZ DE CONTA QUE NÃO DÓI.

(Martha Medeiros)

domingo, 21 de novembro de 2010

Affection


Se você me perguntar cada traço que tem nele, todas as linhas e formas, depois de tanto tempo saberei te responder. Se você me pedir para lembrar de alguma coisa dele ou com ele, imediatamente a lembrança de seu cheiro me entorpece e já não posso mais. Tantos “para sempre” pronunciados que foram eternos enquanto valiam a pena, ou não. Talvez estes “para sempre” ainda estejam mais vivos do que nunca. Talvez eu ainda o ame, mas hoje já não o quero mais do mesmo jeito. Talvez para sempre me lembrarei de como tudo aconteceu, e com o tempo, limparei as partes feias, e as moldarei com os mais belos formatos, para que o carinho pelas lembranças seja ainda maior. Dizem que os brinquedos de hoje em dia quebram fácil, e nosso tempo juntos foi assim mesmo.
Mais do que nunca essas lembranças estão sendo reavivadas dentro de mim, um sentimento louco, uma sensação indescritível da qual vem e vai sem nenhuma explicação, porém na hora em que acontece parece tão possível de esquecer. “É como queimar pavio de vela. Minha vela ainda ta acessa. Quero que ela queime toda ou então que eu possa trocá-la. Não agüento mais essa chama se alternando, ora forte, ora quase se apagando”. Andar nas mesmas ruas e nos esbarrarmos por vezes não ajudam em nada.
Muita coisa já aconteceu depois da última vez, muito tempo se passou, sei coisas das quais não sabia, e tenho certeza que ele também. Mas me sinto a mesma menina quando olho nos olhos dele. Preciso fazer uma correção antes de continuar, não é amor, talvez eu ainda sinta o mesmo carinho que sentia.
Embora ainda esteja no auge dos meus dezesseis anos, me sinto mais confortável que muita gente com o dobro da minha idade para falar de sentimentos. Não que eu expresse-os, mas posso garantir que tenho muitos dentro de mim, e conheço a efervescência de cada um como ninguém. Como já diria Fernando Pessoa, “tenho em mim, todos os sentimentos do mundo”.
Sou muito segura para todas as decisões que eu tomo em minha vida, mas por “minha vela ainda estar acessa” quando vou trocá-la me sinto andando em areia movediça, afundando cada vez mais, procurando cada vez mais sentir tudo que já senti de uma vez só. Deve ser por isso que eu fujo tanto dos novos encontros que a vida proporciona, que me esconda atrás de uma armadura de indiferença. Por medo? Talvez. Por medo de que a velha história se repita? Com certeza. Mas um dia, tenho certeza que conseguirei fazer disso, só mais uma coisa que se lembra quando conversa entre amigos, e me sinta livre para me entregar de novo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Juliet

Julieta é uma idiota, pra começar, ela se apaixona pelo cara errado, que ela não pode ter, então ela culpa o destino pela sua própria decisão errada. O amor assim como a vida é uma questão de tomar decisões. E o destino não tem nada haver com isso. Todos acham que é tão romântico, Romeu e Julieta, amor verdadeiro, que triste. Se julieta foi burra o suficiente pra se apaixonar pelo inimigo, beber uma garrafa de veneno e ir dormir num mausoléu, ela mereceu o que teve! Talvez Romeu e Julieta estavam marcados pra ficarem juntos, mais só por um tempo, então o tempo deles passou. Se eles pudessem saber antes, talvez tudo ficaria bem. Se quando você tiver o destino em suas mãos não deixar nenhum cara te arrastar pra baixo, você será sortuda por ter esse tipo de paixão por alguém. O amor é uma questão de escolhas, é questão de tirar o próprio veneno e fazer o próprio final feliz. Mesmo assim às vezes o destino sempre vence.
(autor desconhecido)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Fly


Sentada na beira da piscina sob o sol lindo que faz hoje, praticamente imóvel, o vôo rasante do bem-te-vi na água. Pode parecer besteira, mas me peguei imaginando a vida desse pássaro, como deve ser maravilhosa. Acordar com o sol nascendo em seu ninho e poder voaaaaar… você conhece alguma coisa mais livre que um passarinho? Cantar a sombra das árvores e se alimentar apenas de frutos,retornar ao ninho para seus filhotes, retornar ao lar feito na árvore mais alta, dos mais altos picos. Quisera eu ser um passarinho.

Alguns deles ainda têm um romance com as flores, às beijando sempre. Outros apenas se abraçam com o vento. Entretanto, têm uns que tem presença fundamental, afinal, sem eles não temos o verão.

Tenho que corrigir um equívoco antes de continuar, TODOS são fundamentais, se fosse diferente a roda da vida não iria girar.

Tanta ladainha para chegar nesse ponto: cada um tem sua função aqui nesse plano. E em dias gostosos como esses que eu percebo como a vida não tem pressa, seja pelo passarinho que pousou na minha frente, seja pelo céu azul ou pelo simples acorde no violão da música tocando. E me sinto agradecida por estar viva e não estar só passando por essa vida.

Todos os momentos. Ter o sol tocando minha pele não tem preço, poder andar descalça, sentir o gelo do sorvete, poder ver o sorriso do meu irmão, ouvir os gritos da minha mãe e os resmungos da minha avó. Não tem o que pague pela dádiva de estar viva.

Como já diria aquela música: Hoje eu não vivo só... em paz. Hoje eu vivo em paz sozinho. Muitos passarão, outros tantos passarinho. Muitos passarão..."